Por: D.S.Chipilica Eduardo em Benguela
Sou do musseque, sou de um bairro de lata. O meu grande sonho foi ser futebolista, actuar em grandes relvado do país e não só. vestir a camisola dos palancas negras. Sentir as bancadas a vibrarem com os meus golos. No final das partidas a imprensa seguir-me para dar entrevistas e celebrar o maior contrato futebolístico, jamais celebrado em Angola e no mundo! Fruto da bola, ter uma mansão e vários “carrões”, enfim ter boa vida e quando terminar a carreira formar uma escola de futebol e ajudar os putos que têm amor pela bola.
No entanto, este meu sonho acabou por morrer, treinava eu no clube da “banda” Nigéria que mais tarde passou a chamar-se “doçura” por causa de umas “makas “, liderada pelo cota Russo. Eu era o “homem golo”. Admirado por quase todos, recordo-me que quando marcava e ganhávamos eu era o centro das atenções. Davam-nos sandes e gasosas, era a mais visível recompensa, mas para mim a verdadeira Vitória era a enchente nos campos (crianças, jovens e velhos), a dama caty nas bancadas inspirava-me em cada finta, passe, remate e golo. Era bué fixe assinar autógrafos . Ganhamos vários campeonatos em todos os bairros, um clube de invejar “grandes vedetas”, o pessoal dizia que a nossa equipa tinha futuro.
Em cada ano, o Igino, António Wey, Kupuia e eu fazíamos testes em muitos clubes federados, mas infelizmente não éramos admitidos. Diziam-nos “voltem o próximo ano”. Saíamos cabisbaixos pois sempre fracassávamos ... na nossa banda eramos queridos, o que se passava? Afinal havia outros critérios de seleção que não o talento, a criatividade, o saber jogar, mas sim o facilitismo, a familiaridade e os “trocos”. Uma vez não conseguiram afastar-me, preparei-me o suficiente, treinei todos os toques da bola, fiz um teste que nunca tirarei da memória. Marquei, fintei, passei, joguei e fiz jogar a equipa, o treinador rendeu-se as evidências e pediu-me para ficar, pensava eu que tinha chegado o meu momento de ser uma “estrela do futebol mundial”. Passei a treinar federado com os meus três cambas, que mais tarde também tiveram a mesma sorte, já que o clube doçura desfez-se e o treinador Dom Cai foi estudar em outra província de Angola.
A fama da bola tornou-me num namoradeiro e foi então que engravidei Angelina Katchilingue e Beatriz tumba, (não resiste a beleza de ambas!) era ainda juvenil e não tinha salário. Orfão de pai, a minha mãe já nos sustentava (quatro irmãos) e não podia com mais duas pessoas, e eu na qualidade de primogênito tive que abdicar dos campos e da escola (6ªclaase). A partir daí o horror passou a morar na minha vida. Tornei-me pedreiro, já não tinha a vida nas relvas, mas sim na “massa”. António Wey não conseguiu continuar era um grande central, dificilmente um ponta o passava, antecipava-se aos pontas, marcava cerradamente os seus adversários, era um miúdo promissor para o futebol, todavia o álcool arruinou a sua vida. No princípio não podia jogar sem beber, depois não podia passar um dia sem beber. Actualmente “joga no copo”. Dói-me! Igino ainda apareceu na seleção sub 20, pensou que já era “vedeta” não treinava e abusava do cigarro e das noitadas, resultado não aguenta sequer uma 1ª parte de uma partida de futebol. Kupuia tornou-se num grande jogador, um verdadeiro ponta de lança, tem faro de golo e está no can Orange Angola2010 pela selecção de Angola, ele não dançou a nossa música de mulheres e álcool, foi sempre um jovem que amou muito a bola e nunca a traiu nem arrumou os livros como nós. Por isso, meus compatriotas amigos da bola, sigam este exemplo e aos cotas apostem seriamente nos miúdos e jovens construindo escolas de futebol, massificando o desporto, ”projecto caça talentos” e os campeonatos inter-escolas.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário