Seguidores

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A indisciplina dos cobradores de táxi


Por Moreira Mário
A entrada em vigor do novo Código de Estrada, em abril do ano passado, parece não anular um comportamento bastante comum dos cobradores de táxi: "colocar o traseiro de fora da janela do carro", uma atitude desrespeitadora às leis e não só.
Normalmente este procedimento tem passado de forma despercebida perante a opinião pública. Todos têm visto esta ocorrência, mas ninguém comenta sobre o assunto, muito menos a Polícia de Trânsito, força encarregue de impedir situações desta natureza.
O que se assiste de facto é que os cobradores, na ânsia de conseguir mais dinheiro no final do dia, optam por lotar constantemente os bancos e ele sujeita-se a viajar em pé em cada percurso, posicionando de forma descarada o seu traseiro na janela.
Os mesmos não se importam se a nádega está ou não desprevenida. A maneira como vestem a calça ou o calção ("cintura baixa" como se diz) deixa destapada absolutamente a roupa interior, neste caso a cueca.
"Isto é um desacato aos princípios morais", apregoou em voz alta um cidadão visivelmente desapontado ao avistar um destes panoramas numa das paragens de táxi, nas imediações do aeroporto. O cobrador, que não fazia uso de cueca, quase estava com o rabo meio pelado.
Logo a seguir, o mesmo cidadão vislumbrou muita falta de educação por parte dos cobradores de táxi, bem como também atribuiu a culpa as autoridades competentes pela ausência de fiscalização nas estradas.
Assistindo a este episódio, o ChelaPress resolveu colher mais opiniões a respeito. Sebastião Paulo, funcionário público, foi o nosso primeiro entrevistado. Para ele, a entrada do novo Código de Estrada seria uma das premissas para combater este género de acções.
"O governo da província de Luanda e a Polícia de Viação e Trânsito devem usar um conjunto de medidas no sentido de desencorajá-los desta prática", apelou.
Por outro lado, a jovem Fernanda Valentina Pedro, estudante, defendeu que os cobradores de táxi devem sempre viajar sentados e não de pé, como acontece normalmente. Esta jovem estudante do ensino pré-universitário, no curso de Ciências Sociais, condena igualmente esta postura que, segundo ela, não compete a boa feição.
A nossa fonte lamentou o facto da polícia não fazer nada para dar resposta a esta má conduta.
Um outro jovem que também já foi taxista, quando questionado sobre o assunto, mostrou-se disponível para mostrar a sua insatisfação. De acordo com este antigo taxista, que preferiu o anónimato, o mau comportamento dos seus colegas é já muito antigo. Para acabar com esta indisciplina nas estradas, salienta que não é apenas tarefa da Polícia Nacional, mas como também do Governo Provincial e a Associação dos Taxistas, "todos eles devem estar de mãos dadas", diz.
Destacou ainda existir vários factores que fazem os cobradores agirem desta forma, "uma delas a carência de transportes públi-cos que se verifica em Luanda". A fonte argumenta que esse episódio tem contribuído, sobretudo, para a sobrelotação dos táxis.
Por outro lado, os passageiros não deixam também de ser culpados, acusou a nossa fonte, porque "quando o táxi está difícil os mesmos exigem o cobrador a ceder o seu lugar". "Este problema associou-se também com o mau es tado das vias e os engarrafamentos no trânsito", comparou.
A fonte diz conhecer perfeitamente a vida dos seus colegas, onde muitos deles não tiveram a oportunidade de estudar, "o que faz com que os mesmos negligenciem certas situações".
O ex-taxista considerou o conteúdo da nossa reportagem de extrema importância e salientou que a Direcção Nacional de Viação e Trânsito (DNVT) já devia ter feito algo, particularmente diante as leis do novo Código de Estrada.
Contactado um agente da polícia regulador de trânsito pelo ChelaPress sob anonimato, este confidenciou que a polícia tem vindo a aplicar algumas multas aos taxistas a respeito deste mau comportamento, mas reconhece existir um certo desleixo por parte das autoridades por não ter levado ainda a sério a questão das multas desde que foi aprovado o novo Código Estrada.
Reconhece que tal comportamento devia merecer uma actuação imediata do efectivo. "Mas a ordem vem lá de cima", argumentou o agente.
O interlocutor diz também que não concorda com a má conduta dos cobradores de táxi. "A Lei do novo Código estabelece um número determinado de passageiros que cada viatura que faz serviço de táxi deve transportar. Mas os taxistas não têm estado a cumprir com esta regra", esclareceu. Sublinha ainda que dos três ou dois bancos para os passageiros, o de frente deve levar sempre menos de modo a deixar lugar para ele, o cobrador.


Segundo o sociólogo Horácio Lembe
"Estamos perante um comportamento desviante"


Em declarações ao ChelaPress, o sociólogo Horácio Lembe fez questão de esclarecer detalhadamente sobre a atitude dos cobradores de táxi, onde numa primeira abordagem se tem visto que muitas das vezes os mesmos não têm um comportamento exemplar. Explica que quando vêem potenciais passageiros, de passagem por uma paragem, em algumas circunstâncias os cobradores puxam a pessoa só para poderem lotar o seu carro.
Nestas circunstâncias, nem sequer respeitam a integridade física dos passageiros, e depois, mal se posicionam na viatura, "nós vemos que a nádega do cobrador fica de fora da janela", disse o sociólogo, para depois adiantar que "estamos perante um comportamento desviante no ponto de vista sociológico", garantindo que "isto não é normal para uma sociedade como a nossa".
Horácio Lembe adianta que o fenómeno é uma patologia, ou seja, uma atitude menos correcta. "E a certo ponto nós notamos também a negligência da própria sociedade que vê o caso e nada diz, tal como os próprios funcionários responsáveis pela aplicação da Lei, neste caso a Polícia Nacional e o Governo Provincial".
No seu parecer, eles (autoridades) têm conhecimento de que isto tem estado a ocorrer, mas simplesmente não tomam nenhuma atitude para fazer face a esta situação.
"Neste caso, as autoridades e a Ordem pública são as forças que fazem parte dos funcionários responsáveis pela aplicação e fiscalização da Lei", diz, adiantando que estes dois órgãos afectos ao governo devem tomar decisões para que esta situação deixe de ocorrer. Horácio Lembe adianta algumas soluções como por exemplo, meter fiscais nas vias uma vez que o governo da província tem este corpo, a própria polícia, não só da ordem pública como também de trânsito, devem intervir para que os cobradores já não venham a praticar este tipo de acções.
"Agora se por acaso disserem que não existe uma lei que proíbe tal prática, no âmbito do novo Código de Estrada, pode-se criar um regulamento que visa regular a actividade de táxi em Luanda e onde este tipo de comportamento deve constar numa das cláusulas no sentido de proibir esta acção", concluiu.

Sem comentários: