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sexta-feira, 30 de abril de 2010

KWANZA-SUL: ENTRE ABUSO DE AUTORIDADE E PODER – POPULAÇÃO DA GANGULA PODE VER SUAS TERRAS EXPROPRIADAS

Texto: Fernando Caetano

É, deveras, um drama difícil de acreditar quando a comuna chama-se Gangula, há sensivelmente 27 quilómetros de estrada à norte da cidade do Sumbe, uma sede comunal bem juntinho a estrada nacional nº100.

Gangula e o seu povo entraram para a história da municipalidade Sumbense nos longínquos anos 1700, muito por culpa da pesca, agricultura e criação de gado que predominam na região.

Detentora de suficientes reservas de pasto para todo tipo de gado e, consequentemente, de áreas para produção de milho, batata doce e feijão miúdo, de lagoas recheadas de peixe, com destaque para o apetitoso cacusso, àquela zona se tornou, aos olhos de muitos (abutres), local de cobiça, a começar pelas Cachoeiras da Binga (cujo dossier: parte intergrante do município da Conda, está sendo analisado pelas autoridades tradicionais da comuna), pela Chicucula, passando pelo Cuacra, hoje zona industrial (onde fica situada a fábrica de cimento).

Desde os primórdios e dada a sua configuração geográfica, Gangula sustentou várias actividades, com destaque para o cultivo de algodão e para a maior reserva para extracção do leite fresco.

O famoso projecto “Reservas Fundiárias do Estado” coloca a sede e demais povoações na boca dos Tubarões.

Assim é que a vasta extensão territorial conhece, nos dias que correm, um emagrecimento jamais visto e com ele as dificuldades para o abeberamento do gado de populares aumentou.

Como consequência, muito gado está a encontrar a morte, tudo porque os seis locais de abeberamento dos animais constam do croquis que propaladamente pertence a reserva fundiária do Estado.

Tanto a administração comunal, municipal do Sumbe, direcção do ordenamento do território e ao próprio governo da província, na pessoa dos seus titulares, nem sequer se dignaram em notificar os populares, sobretudo a autoridade tradicional, para a tramitação dos espaços.

Furiosos com este tipo de comportamento, um grupo de cerca de trinta cidadãos, na casa dos 50, 60, 70 e 80 anos, sustentaram a este quinzenal constituir uma abominação aos olhos de todos, sobretudo dos sobas, a inclusão de uma área habitada na reserva fundiária do Estado.

Para o autóctone Zé Kindiongo, na casa dos 70 anos, “o que a administração ou quem de direito deve ou devia fazer é, em concertação com populares, determinar a zona limítrofe para a reserva fundiária”.

O ancião interroga-se quanqo a resposta dos governantes reside apenas em dizer “é uma zona limítrofe do Estado”, porquanto, segundo ele, “não há governo sem a população e o voto da população da Gangula foi, é e será sempre para o MPLA”, disse.

Rodrigues António é outro filho da terra, que já vai na casa dos mais de 50 anos de idade, que advoga falta de consideração das estruturas afins no processo em curso. “Se nós já procuramos saber a partir da administração da comuna, fomos a administração municipal e até ao governador provincial e não nos deram resposta convincente, sendo que todos estão a fugir com o rabo da seringa, a quem vamos nos dirigir?” Rodrigues António prosseguiu na sua alocução, dizendo que a intenção não é de afrontar as autoridades governamentais, mas sim de se poder encontrar um denominador comum para que o povo não desconfie das intenções do governo e do partido no poder.

O cidadão António Manuel Nhoca é natural da Gangula e a sua idade ronda os cerca de 50 anos. Ele foi peremptório em afirmar que caso as autoridades não consigam encontrar solução para o problema, a única solução vai ser recorrer a tradição (feitiço) para se fazer valer àquilo que identifica essa população. “Nós já batemos várias portas e acredito que nos estão a ignorar e, caso essa situação prevaleça, a solução vai ser o recurso ao feitiço, porque desde o tempo colonial os nossos espaços foram defendidos dessa forma”, disse.

POPULAÇÃO LOCAL DEFENDE O AFASTAMENTO DA ADMINISTRADORA COMUNAL

De entre várias acusações que pesam sobre Angelina Jaime, administradora comunal, conta o facto de supostamente ela pertencer a um outro partido político que não seja o maioritário, como faz alusão a carta endereçada a nós.

Na missiva, os subscritores acusam a administradora e seus superiores hierárquicos (a administração municipal no caso) de estarem em negociatas com supostos generais ou ministros de áreas adstritas a comuna da Gangula.

A falta de diálogo entre a autoridade máxima local e populares foi uma das questões apresentadas por populares.

NETO MAKANDUMBA E SERAFIM DO PRADO SACODEM A POEIRA DOS CASACOS

Desta grande enrascada (assim é chamado o dossier), as duas figuras mais indicadas pela população, bateram o pé e afirmaram, ante presença de populares, que desconhecem a situação.

O primeiro dissera que a responsabilidade seria do chefe do executivo provincial, e no governo da província do Prado disse que seria com o administrador.

Tanta baralhação que os mais velhos ficaram sem saber a quem deitar a culpa e como solução procuraram os nosso serviços por forma a fazer ouvir a sua voz, pedindo que a situação seja resolvida de forma pacífica.

DIRECÇÃO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO, URBANISMO E AMBIENTE PULA FORA DO CERCO

Do encontro mantido entre aqueles populares e a directora provincial do ordenamento do território, Madalena Bernardo, titular da pasta daquela instituição, afirmou desconhecer o dossier uma vez estar ao corrente de apenas dois projectos na comuna, como são os projectos do algodão e, consequentemente, o da reserva fundiária, mas numa área bem delimitada e que não belisque a população.

Madalena Bernardo disse mesmo que outros projectos que atingem a comuna da Gangula são do seu total desconhecimento e da sua direcção, tendo tranquilizado a população pelo facto de estarem dispostos a gastar os seus poucos recursos para a legalidade que se impõe.

Verdade seja dita, que na sede comunal os ânimos elevaram-se e a população está para poucos amigos, sobretudo para visitantes, o que poderá contribuir negativamente para o desenvolvimento da comuna. Daí o apelo da redacção deste quinzenal na província que se encontre de facto um denominador comum entre as partes e acreditamos na vontade das pessoas na resolução breve e possível dessa questão, que envolve as administrações comunal, municipal do Sumbe, ordenamento do território e governo da província e a população da comuna da Gangula.

Lembro que no final do ano transacto situação do género aconteceu na periferia da cidade do Sumbe, onde a administração municipal do Sumbe, na pessoa do administrador adjunto, esteve implicada na cedência anárquica de espaços a uma empresa, em detrimento de populares que ali ergueram suas residências.

São mais de duzentas famílias que hoje estaria a viver em condições desumanas, caso pessoas de boa vontade não interviessem no dossier “Terra Prometida”.

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