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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Progresso e o destino de Angola: Angolanos querem melhores imigrantes para o desenvolvimento futuro do país

O PROBLEMA DE IMIGRAÇÃO APARECEU SEMPRE QUANDO UM PAÍS SE ENCONTROU, AO LONGO DA SUA HISTÓRIA, NUMA SITUAÇÃO DE ARRANQUE PARA UMA AUGURADA PROSPERIDADE. PORTANTO, SER PAÍS DE IMIGRAÇÃO, RECEPTÁCULO DE GENTE QUE CHEGA DO ESTRANGEIRO É, À PRIMEIRA VISTA, UM BOM SINAL. E ACONTECE QUE ANGOLA SE ENCONTRA NUMA ENCRUZILHADA DA SUA HISTÓRIA, EM QUE SE ACUMULAM OS BONS AUGÚRIOS NUMA MULTIPLICAÇÃO DE INTERVENÇÕES E SOLICITAÇÕES DE “AMIGOS” ESTRANGEIROS.
A MAIOR DIFICULDADE É SEPARAR O QUE É BOM DO QUE É MAU, TANTAS SÃO AS PROBABILIDADES DE SEREM APENAS MIRÍFICAS AS PROPOSTAS ELABORADAS EXTRAMUROS QUE NOS CAEM EM CIMA.

Texto: Simão Pedro

Lembremo-nos do que se passou na Europa depois de ter acabado a II Grande Guerra Mundial de 1939/1945. A Alemanha, a França, a Bélgica, a Grã-bretanha, para distinguirem alguns dos seus principais intervenientes, arrasadas por bombardeamentos contínuos, seguidos de sabotagens em todos os sectores da vida política, social e económica, encontraram-se num estado de destruição muito grande. Esse é o ónus a pagar por todos os “senhores da guerra” e esses países sabiam o que arriscavam ao entrar e envolver-se nela. Reagiram bem.

Quando a contenda acabou, ao fazerem o balancete de percas e proveitos tirados dela, concluíram que os prejuízos eram grandes. Tudo estava destruído e era preciso recomeçar do início e pôr de pé o que tinha sido destruido, como que a contrabalançar os danos, quando tudo isso significava trabalho para toda a gente, tanto mais que as percas em homens tinham sido muitas, faltava mão de obra e o trabalho a fazer era gigantesco. Dadas as suas potencialidades e riqueza intrínseca, não faltou quem investisse na reconstrução dessas comunidades destroçadas pela guerra. Em menos de 20 anos, a Europa, na sua generalidade, conheceu um crescimento económico como nunca tinha conhecido antes!

O que se passa entre nós nos dias de hoje, tem muito a ver com a situação que acabámos de descrever. Angola, potencialmente rica, foi destroçada por uma longa guerra. Muitos foram os seus filhos que nela pereceram. O país é grande e a densidade da população muito baixa, excepto a que se regista em geral na província de Luanda. De qualquer maneira, no seu todo, manifestamente insuficiente para projectos de desenvolvimento futuros.

Situado na África Austral, o nosso país é basicamente construído por uma população na sua maioria de raça negra e de origem Bantu. Tanto Deus como os homens sabem a que sorte macaca foi votada ao povo de Angola. Quinhentos anos de ocupação colonial, trezentos anos de escravatura, mais de quarenta anos de guerra moderna, dos quais mais de vinte e sete anos de guerra civil e, como resultado dessa desgraça, o analfabetismo generalizado, a pobreza por toda a parte, paludismo e toda a espécie de doenças, algumas endemias, como a diarreia, a febre tifóide, sem anti-sépticos disponíveis para às combater. A miséria existe em todo o seu esplendor, após quase 35 anos de governação de muito baixa qualidade!

Mas, chegada a paz, chegou o tempo das “vacas gordas”, apenas contrariado por uma crise financeira e económica mundial, fabricada de A à Z pelas potências democráticas que, modernamente, continuam a roubar escandalosamente os “danados da terra”, os desprotegidos, enfim, os mais pobres. Mas deixemos isso de lado, não é esse o nosso propósito.

O nosso propósito refere-se ao que se passa no nosso país e em defesa dos interesses de Angola. Com a instalação de uma paz duradoura e subsequente manancial fecunda de muita reconstrução em vista. Mas há poucos homens, mão de obra escassa, e não é se não normal que cheguem ao nosso país estrangeiros com vontade de trabalhar, para além de outros simplesmente contratados dentro de uma negociação que envolveu biliões de dólares com a China.

Se é para trabalhar e dar um bom contributo à reconstrução nacional, que sejam bem-vindos. Porém, é neste ponto, o da chegada em massa de gente de fora que vem para trabalhar no nosso país, que se levanta o problema político da aceitação ou não aceitação de estrangeiros. Que critérios se devem adoptar para aceitar ou recusar? Qual o tipo de imigração a optar para povoar o país? A africana que poderia ajudar a manter a textura actual do país, pois manteria a ossatura Bantu? A asiática que, por ora, chega em sucessivas carradas da China, para o bem e para o mal? A europeia para, entre outras coisas, designadamente encher os bolsos e “bazar”, materializar o projecto de Gilberto Freire de criar uma sociedade luso-tropicalista?

Eis o grande debate sobre uma matéria sensível, mas que os angolanos têm de discutir amplamente.

É claro que as diferenças de mentalidade, de usos e costumes não facilitam a integração, e se esse fosse o único critério de opção conviria que os imigrantes em Angola fossem étnia Bantu. Mas há outros critérios não étnicos, e mais importantes, não obstante sabermos que a integração dos imigrantes do pós-guerra europeu tenha sido tanto mais difícil quão grande eram as diferenças culturais, religiosas e de tradição entre eles e os habitantes do país de acolhimento. Por exemplo, os portugueses e espanhóis adaptaram-se muito mais facilmente às comunidades para onde tinham emigrado do que os turcos ou os magrebinos.

Mesmo assim, pensando bem, uma escolha feita em função das étnias que se propõem trabalhar no país não responde aos problemas que se levantarão com a sua futura integração, porque, entre os imigrantes que chegam, vemos de tudo, sem distinção de étnia.

Em cada uma delas inserem-se bandidos, vigaristas e preguiçosos, misturados com gente sã, honesta e rapidamente rotulada como composta de elemento validos que gostaríamos que passassem a fazer parte da nossa “banda”. A aceitação tem de ser isolada.

Não pode ser a Assembleia a fazê-lo, mesmo sendo os deputados representantes do povo, e isso porque os problemas que aparecerão em caso de se optar por uma selecção, seja ela de que tipo for, sobretudo se for diferenciada e tomando caso por caso, sem prejuízo dos direitos desses trabalhadores, convém reflectir que resolver esses casos não cabe às competências de deputados, que têm outros “gatos a esfolar”, passe a expressão.

Em todo o caso, aqui fica expressa a nossa vontade de entabular um diálogo aberto, sereno e sem preconceitos sobre os problemas que esta nova situação, decorrente da chegada em massa de mão-de-obra estrangeira, não deixará de se colocar aos nossos governantes.

Mais do que em qualquer outra época da nossa conturbada história, o tempo que corre oferece-nos a suprema oportunidade de lançarmos os alicerces de um projecto político e sócio-económico que, finalmente, nos torne capazes de construir um país e consolidar um Estado.

Mas, apesar desta excelente ocasião, continuamos a persistir nos erros que originaram a devastação e estagnação da nossa amada Pátria. Teimamos em manter intactos os vícios que exploram e manipulam as nossas naturais diferenças e obstam a convivência fraterna entre todos os angolanos.

O musculado triunfo do tristemente célebre projecto constitucional do grupo de Eduardo dos Santos é apenas mais um desses erros e vícios, sucessivamente repetidos ao longo da nossa conturbada história. Assim, ao impingirem uma Lei Fundamental absolutamente controversa e longamente contestada, os arquitectos da vergonhosa Constituição deitaram, levianamente, por terra a grande oportunidade de “inventarmos”, juntos, um modelo de Estado que vise assegurar a coesão de um mosaico de raças, línguas, étnias, regiões e culturas tão heterogéneas, para que ninguém se sinta submetido, excluído ou humilhado, devendo caminhar a re-boque de grupos ou étnias dominantes.

Assim, em nome de uma autêntica e eterna reconciliação dos angolanos e para que todo o longo e controverso processo culminado no dia 4 de Abril de 2002 não se transforme num empreendimento inglório e num insensato desperdício de vidas e energias, devemos ser rigorosos nas nossas opções.

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